Determinante e Traço
Traço de uma Matriz
O traço de uma matriz quadrada corresponde à soma dos elementos da diagonal principal. Pode possuir várias interpretações físicas e geométricas consoante o contexto em que o utilizamos, interpretações essas que, por simplicidade, não abordaremos aqui (nem são necessárias para um bom aproveitamento na disciplina). De qualquer maneira, quem tiver o interesse mais aguçado pode espreitar esta e outras threads para entender melhor os vários cenários em que este conceito pode ser útil.
Formalmente, escrevemos:
Possui um conjunto de propriedades particularmente útil:
A título de exemplo:
Matriz Transposta
É usual introduzir o conceito da transposição matricial quando se aborda o traço de uma matriz. Dizemos que a matriz transposta de , denotada por , é a matriz obtida tal que:
Colocado em linguagem corrente, a matriz transposta obtém-se trocando colunas e linhas de cada entrada da matriz original. Segue-se um exemplo abaixo:
Uma matriz dir-se-á simétrica, claro, caso . As matrizes identidade e nula são exemplos de matrizes simétricas!
Voltando à questão do traço, temos que para toda a matriz quadrada , . Esta definição é relativamente simples de compreender: a diagonal principal fica sempre intacta, com as entradas a "rodar" sobre a mesma, pelo que o traço permanece inalterado.
A matriz transposta possui ainda algumas propriedades relevantes:
- - transpondo a transposta, obtemos a matriz original;
- - a transposta de uma soma matricial é a soma das transpostas;
- - a transposta de um produto matricial é o produto das transpostas, pela ordem inversa;
- se for invertível, - a transposta da inversa é a inversa da transposta.
A prova para a terceira propriedade pode ser encontrada aqui.
Determinante de uma Matriz
Essencialmente, o determinante de uma matriz permite-nos verificar quando é que uma qualquer matriz quadrada possui inversa: caso este seja , não existe. Em qualquer outro caso, podemos afirmar que tem inversa. Para além desta propriedade (fulcral, diga-se de passagem), existe uma noção "espacial" associado ao conceito de determinante, abordado em contextos mais teóricos (que não serão referidos nesta página). Usualmente escrevemo-lo de duas formas, ou .
Propriedades
Como referido acima, o determinante pretende determinar se uma matriz quadrada tem ou não inversa. Ora, esta definição não é válida por mero acaso: o determinante possui um conjunto de propriedades bem definidas, que nos permitem fazer esta afirmação.
A primeira propriedade (e a mais simples) é que o determinante da matriz identidade é .
Posteriormente, temos ainda que, obtendo uma matriz a partir de , podemos afirmar:
- caso se obtenha multiplicando uma linha de por uma constante , . Note-se que corresponde à matriz tal que todas as entradas de foram multiplicadas por uma constante - assim sendo, fará sentido que ;
- caso se obtenha somando a uma linha de o produto de uma constante por outra linha de , ;
- por fim, caso se obtenha trocando duas linhas de , .
É ainda igualmente relevante afirmar que o determinante da matriz transposta é igual ao da matriz original, . A prova pode ser encontrada aqui.
Até agora, tudo relativamente simples, não havendo implicações diretas entre estas propriedades e a primeira afirmação deste trecho. Continuemos:
- toda a matriz com duas linhas iguais tem determinante nulo;
- toda a matriz com uma linha nula tem determinante nulo;
- se é diagonal, triangular, ou está em escada de linhas, ·
Note-se que as primeiras propriedades imediatamente acima aplicam-se tanto a linhas como colunas, já que, como afirmado anteriormente, .
Por fim, notar que , e que o determinante da inversa é o inverso do seu determinante: .
Após abordadas tantas propriedades e conceitos associados ao determinante, será agora interessante aprender a calculá-lo. Para tal, vamos começar por delinear um algoritmo para o caso geral, abordando posteriormente casos particulares em que podemos simplificar o cálculo.
Cálculo do Determinante - Caso Geral
Dadas uma matriz quadrada e uma matriz em escada de linhas obtida a partir de , podemos afirmar que
onde aqui correspondem aos pivôs de .
Note-se que, utilizando a eliminação de Gauss-Jordan para obter , vamos poder calcular iterativamente, consoante as transformações elementares que formos aplicando a . Segue-se um exemplo relativamente simples abaixo:
Note-se que:
- com a primeira transformação, permanece neutro, , já que tal como referido mais acima, transformar uma linha na sua soma pelo produto de outra linha por uma constante não altera o determinante;
- com a segunda transformação, passa a ser negativo, já que, como referido mais acima, trocar duas linhas altera o sinal do determinante.
Posteriormente, já com transformada em , em escada de linhas, podemos calcular o determinante diretamente.
Determinante - Matrix
As matrizes que vamos sempre querer ao calcular determinantes são matrizes . devido à simplicidade do seu cálculo, existindo inclusive uma fórmula bastante fácil de decorar para este propósito. Para qualquer matriz quadrada , temos que:
Abaixo encontra-se uma derivação interessante para este resultado.
Regra de Laplace
Ora, obviamente não vamos querer sempre calcular determinantes de matrizes . Para calcular o determinante de matrizes de dimensões superiores, podemos recorrer a todo um conjunto de regras e algoritmos - esta secção abordará uma delas, a Regra de Laplace.
Conceitos-Chave
A regra de Laplace requer domínio prévio sobre um pequeno conjunto de conceitos que nos vão ser particularmente úteis: submatriz e cofator.
Dizemos que a submatriz de uma matriz corresponde à matriz obtida a partir de , eliminando as respetivas linha e coluna . Segue-se um exemplo abaixo:
Temos ainda que o cofator de uma matriz corresponde ao seguinte produto:
A título de exemplo, dada a matriz acima, temos que:
Explorados estes conceitos, temos agora tudo o que precisamos para definir a regra de Laplace, com formulação relativamente simples:
Posto em linguagem corrente, temos que o determinante de uma matriz pode ser obtido, fixando uma qualquer linha ou coluna , somando o produto de cada entrada respetiva a pelo cofator respetivo. Se ainda assim parecer confuso, o exemplo abaixo provavelmente permitirá dissipar algumas dúvidas:
Exemplo
Consideremos a seguinte matriz :
Recorrendo à regra de Laplace, podemos calcular o determinante de fixando a linha :
Vamos novamente aplicar a regra de Laplace, fixando agora a linha :
Ora, empiricamente conseguimos perceber que quantas mais entradas nulas tiver a linha/coluna que escolhermos, mais rapidamente calculamos o valor pretendido (já que podemos só afirmar que o produto tem valor ). É, assim, da maior importância que façamos uma escolha criteriosa da linha/coluna que vamos fixar, por forma a minimizar o trabalho que temos pela frente.
Matriz dos Cofatores
Pegando no conceito de cofator abordado mais acima, podemos introduzir a noção de matriz dos cofatores: dada uma matriz , , a respetiva matriz dos cofatores é uma matriz de dimensões iguais, tal que a respetiva entrada é dada por . Note-se, claro, que a soma de qualquer linha/coluna desta matriz é igual ao determinante da matriz .
Dada a matriz dos cofatores, podemos calcular a inversa de uma matriz da seguinte forma:
Recorrendo a esta fórmula, temos agora uma maneira bastante simples de calcular a inversa de uma matriz :
Note-se que o determinante de uma matriz é dado por , pelo que o lado esquerdo do produto é relativamente óbvio. É igualmente trivial demonstrar que a transposta da matriz dos cofatores de uma matriz corresponde precisamente à matriz à direita.
Regra de Cramer
A regra de Cramer vai permitir-nos resolver sistemas de equações lineares recorrendo a uma fórmula, em vez de ter de usar o método de Gauss-Jordan, iterativo. Funciona exclusivamente para matrizes invertíveis, retornando, em caso afirmativo, a única solução possível para o sistema. Para tal, utiliza a igualdade referida acima, :
Esta fórmula permite-nos afirmar que cada uma das entradas de , , serão dadas pela seguinte expressão (com a respetiva demonstração abaixo):
Demonstração
Ora, temos que:
Assim sendo, podemos afirmar que cada entrada de , , será dada por:
É possível demonstrar (embora, por questões de brevidade, não seja feito aqui) que o numerador do quociente acima é equivalente ao determinante da matriz obtida de substituindo a coluna por :
Obtida esta fórmula, podemos resolver facilmente um sistema como o seguinte:
Exemplo - Resolução
Aqui, temos que:
Note-se que o determinante de é , pelo que podemos aplicar a regra de Cramer para obter a solução do sistema: