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Introdução aos Sistemas de Gestão de Bases de Dados

BD vs SGBD

Embora possam ser confundidos (incorretamente) no dia-a-dia, existe uma clara diferença entre bases de dados e sistemas de gestão de bases de dados.

Uma base de dados é, como o próprio nome indica, um conjunto de dados que estão interligados entre si. Frequentemente, descreve organizações que existem no mundo real.
Por exemplo, numa instituição como o Técnico, é preciso associar professores a um departamento. Teremos então duas entidades: professores e departamentos. Estas duas entidades estão relacionadas: o professor X pertence ao departamento Y.

Por outro lado, um sistema de gestão de bases de dados é um pacote de software que está desenhado para guardar e gerir bases de dados. Existem diferentes tipos de SGBDs, como veremos mais à frente.
Os SGBDs têm uma grande quantidade de funcionalidades para facilitar a vida a quem usa bases de dados (e.g. programadores), como garantias de consistência, controlo de acessos, gestão de concorrência (transactions), e muito mais.
Estas são também vantagens da utilização de SGBDs em vez de ficheiros, visto que, nesse caso, um programador necessitaria de programar estas funcionalidades a partir do zero todas as vezes, enquanto que SGBDs conseguem abstrair toda essa complexidade.

Exemplos de SGBDs relacionais

Hoje em dia, existem vários sistemas de gestão de bases de dados, cada um com as suas vantagens e desvantagens, entre os quais: MySQL, MariaBD, PostgreSQL, SQLite, Microsoft SQL Server, Oracle Database, H2, Microsoft Access, e muitos outros. Todos estes são exemplos de SGBDs relacionais. Existem outros tipos de SGBDs, como é o caso do NoSQL, sobre os quais iremos falar no futuro.

Para além disso, atualmente existem também serviços cloud que nos dão acesso a bases de dados de uma forma extremamente simples e escalável, como a Amazon Web Services e a Azure Cloud.

Vantagens e Desvantagens de SGBDs

Vantagens

Já referenciámos algumas das vantagens de SGBDs, no entanto existem muitas mais.

  • Independência dos Dados

    Existe uma camada de abstração entre a representação dos dados quando são armazenados e aquilo a que as aplicações têm acesso. Uma aplicação não tem de saber (nem sabe) como é feito o armazenamento dos dados.
    Podemos, por exemplo, tanto por razões de performance como de resiliência, ter os dados armazenados em discos diferentes ou até máquinas diferentes. As nossas aplicações nunca precisam de ter isto em conta.

  • Acesso Eficiente aos Dados

    A nível de armazenamento, os SGBDs usam várias técnicas sofisticadas para tornar o armazenamento e recolha de dados num processo eficiente.

    A nível de interface, conseguimos inferir certos dados a partir de informação já existente, assim como representar relações complexas.

  • Integridade dos Dados e Segurança

    Quando estamos a modelar dados do mundo real, por vezes existem restrições a que temos de obedecer para assegurar que os dados são válidos. Este processo é denominado por garantia da integridade dos dados, e é algo que os SGBDs fazem por nós.
    Por exemplo, no Técnico queremos garantir que um aluno não está a fazer mais de 42 ECTS por semestre. Podemos dar esta regra ao nosso SGBD e não nos temos de preocupar com esta restrição no desenvolvimento da aplicação.

    Ao contrário de outras formas de armazenamento de dados, como ficheiros, os SGBDs dão-nos uma granularidade de permissões muitíssimo elevada de forma a controlar os acessos para cada utilizador.

  • Armazenamento Persistente

    Quando usamos um SGBD temos a certeza que, quando acabamos de executar uma instrução (e.g. inserir, atualizar, apagar, etc.), essa instrução foi executada e guardada persistentemente. Caso haja uma falha imediatamente após a execução de qualquer instrução, temos a garantia que não perdemos estes dados.

  • Administração dos Dados

    Permite a separação de funções: quem desenvolve a aplicação não necessita de ser a mesma pessoa que administra a base de dados. Assim, pode-se ter um profissional muito mais experiente só focado no SGBD, melhorando o armazenamento e recolha de dados.

  • Acesso Concorrente e Recuperação de Falhas

    Os SGBDs proporcionam ferramentas (transactions) para minimizar o tempo perdido por acessos concorrentes, minimizando também as falhas que possam ocorrer.

  • Redução do Tempo de Desenvolvimento de Aplicações

    Com todas as ferramentas disponibilizadas pelos SGBDs, assim como linguagens próprias de interrogação dedicadas a dados (e.g. SQL), o trabalho dos programadores fica imensamente facilitado. Estas linguagens dão uma interface de alto nível para os dados, que, tal como já vimos, permitem criar várias abstrações que simplificam o desenvolvimento de aplicações.

Desvantagens

Embora sejam muitas as vantagens dos SGBDs, existem algumas desvantagens a ter em conta:

  • Aplicações Muito Complexas

    Por vezes, podemos ter aplicações muito complexas nas quais não nos é possível modelar os nossos dados num sistema relacional.

  • Desempenho Inaceitável (e.g. para aplicações de tempo-real)

    Para algumas aplicações, como uma bolsa, os dados são alterados tão rapidamente que o desempenho dos SGBDs não é suficiente.

  • Falta de Análise Flexível para Certos Tipos de Dados

    Maioritariamente para texto, em que podemos querer fazer pesquisas avançadas (e.g. full text search, fuzzy search), algo que a maioria dos SGBDs não suporta.

  • Falta de Necessidade

    Para aplicações extremamente simples ou com dados maioritariamente imutáveis, pode não fazer sentido a introdução de um SGBD, por mais pequeno que seja o overhead de o fazer hoje em dia. Uma aplicação deste tipo não beneficiaria de um SGBD.

Modelo ANSI-SPARC

Arquitetura ANSI-SPARC

O aparecimento do modelo ANSI-SPARC foi um passo importante na criação dos SGBDs relacionais que conhecemos hoje em dia, visto que propôs a separação da base de dados em 3 níveis.

  • Nível Externo (views): Uma view descreve como os utilizadores veem os dados. Cada utilizador pode ter views diferentes, particulares a si mesmo, sendo reflexões dos dados que lhe são úteis e a que simultaneamente tem acesso. Cada view pode ser partilhada por vários utilizadores e cada utilizador pode ter acesso a várias views.

  • Nível Conceptual/Lógico: O nível conceptual é responsável por descrever que dados existem na base de dados e como se relacionam entre si. Em SGBDs relacionais, isto é aquilo a que casualmente nos referimos como schema.

  • Nível Físico/Interno: O nível físico é responsável pelo armazenamento dos dados, isto é, pela sua representação interna no sistema.

Exemplo

Imaginemos que temos o seguinte esquema lógico:

Student (ist_id: string, student_name: string, birthday: date)
Course (course_id: string, course_name: string,
        description: integer)
Shift (shift_id: string, course_id: string, capacity: integer)
Enrollment (ist_id: string, shift_id: string)
Room (room_name: string, course_id: string, capacity: integer)

Uma possível view para este esquema lógico seria:

CourseShiftRooms (room_name: string, course_name: string,
                  enrolled_count: integer)

Podemos reparar que esta relação não está representada explicitamente no esquema lógico, no entanto todos os dados podem ser derivados das relações definidas no mesmo.

A grande vantagem desde modelo é a independência dos dados. Como estamos a dividir a estrutura em três níveis, podemos alterar cada um deles sem ter de propagar estas alterações "para cima":

  • Podemos alterar o esquema lógico sem alterar as nossas aplicações, visto que as vistas se podem manter.
  • Podemos alterar a organização física dos dados, isto é, como são armazenados, sem termos de modificar o esquema lógico.

Modelos de Dados

Um SGBD tem de usar um modelo de dados, um conjunto de conceitos e métodos, para descrever dados, relacionamentos, semântica de dados e restrições.

Existem vários tipos de modelos de dados hoje em dia:

  • Relacionais (os mais usados)
  • Entidade-Relação (para conceção de bases de dados)
  • Baseados em Objetos (Orientados a Objetos ou Objeto-Relacionais)
  • Semi-Estruturados (XML, JSON, etc.)

Historicamente, também era comum o uso de modelos de dados em rede e hierárquicos.

Modelo Relacional

Atualmente, o modelo relacional é o mais usado. Como o próprio nome indica, é composto por relações. Uma relação, vulgarmente conhecida como tabela (ou table), é constituída pelo seu nome, o nome de cada atributo (field) e o tipo de dados de cada atributo.

Exemplo

student (ist_id: string, student_name: string, birthday: date)

Podemos depois adicionar linhas (rows) nesta relação. Neste caso, cada linha representa um único aluno.

ist_id student_name birthday
ist1123456 Diogo 2002-03-06
ist1123234 Rafa 2002-08-05
ist1124453 Tomás 2002-12-18
ist1123534 Diogo 2001-09-16
ist1123532 Diogo 2002-04-27

Neste exemplo, faria também sentido impor restrições de integridade. Neste caso, a restrição mais óbvia é garantir que não existem dois alunos diferentes com o mesmo ist_id. No entanto, podem existir alunos com o mesmo nome.
Mais à frente, veremos como podemos indicar ao SGBD para seguir estas regras, de forma a assegurar a integridade dos dados.

Arquitetura de SGBDs

Para falarmos com os SGBDs, temos de usar uma linguagem que eles compreendam de modo a expressar de forma clara as nossas intenções. No caso do modelo relacional, é geralmente utilizado o SQL (Structured Query Language).

Na imagem abaixo, podemos ver o esquema que representa a estrutura de todo o fluxo de execução entre a aplicação e a base de dados, passando pelo SGBD.

Esquema que representa a arquitetura de um SGBD

Quando executamos uma query (interrogação), esta é enviada ao query evaluation engine, que depois acede a várias outras partes do SGBD para conseguir completar o pedido.

Iremos falar com mais detalhe de cada um destes "módulos" do SGBD mais à frente.