Campos Vetoriais
Integral de Linha de Campo Vetorial
DEFINIÇÃO
Seja C⊂Rn uma curva parametrizada por g:]a,b[→Rn e F:C→Rn
Definimos o seguinte:
∫CF⋅dg=∫abF(g(t))⋅g′(t)dt
Podemos alterar ligeiramente a expressão acima para obtermos outro resultado:
∫CF⋅dg=∫abF⋅vetor tangente aC com norma=1F(g(t))⋅∣∣g′(t)∣∣g′(t)⋅∣∣g′(t)∣∣dt=∫CF⋅tangentedγ
Exemplos
Considerando a parametrização g e o campo vetorial F,
g(t)=(t,t)t∈[0,1]F(x,y)=(1,x) Então podemos calcular o integral:
∫CF⋅dg=∫01F(g(t))⋅g′(t)dt=∫01(1,t)⋅(1,1)dt=∫01(1+t)dt=[t+2t2]01=23
Considerando a parametrização h e o campo vetorial F,
h(t)=(t,t2)t∈[0,1]F(x,y)=(1,x) Então podemos calcular o integral:
∫C2F⋅dh=∫01F(h(t))⋅h′(t)dt=∫01(1,t)⋅(1,2t)dt=∫01(1+2t2)dt=[t+32t3]01=35
Propriedades:
- Se g1 e g2 são duas parametrizações da curva C que percorrem a curva no mesmo sentido, o integral ∫CF⋅dg1=∫CF⋅dg2
- Se g1 e g2 são duas parametrizações da curva C que percorrem a curva em sentido contrário, o integral ∫CF⋅dg1=−∫CF⋅dg2
- O valor do integral pode não depender só dos pontos inicial e final, mas também da curva
Interpretação física
Seja F um campo de forças e uma partícula a percorrer um caminho C.
Então, temos que ∫CF⋅dg é o trabalho realizado por F.
Segmento que une dois pontos
Por vezes, precisamos de considerar um caminho que une dois pontos.
Para isso, podemos considerar a seguinte parametrização.
Sejam, por exemplo, (1,2,3) e (4,5,6) os pontos que queremos considerar, a parametrização
será:
g(t)=(1,2,3)+t((4,5,6)−(1,2,3))=(1,2,3)+t(3,3,3)=(1+3t,2+3t,3+3t),t∈]0,1[
Campo Vetorial Conservativo
DEFINIÇÃO
Um campo vetorial cujo integral sobre qualquer curva depende só dos
extremos da curva diz-se conservativo.
Um campo é conservativo se e só se o integral ao longo de qualquer curva fechada for 0.
Exemplo
Seja F constante, isto é, F=(F1,…Fn) fixo
∫CF⋅dγ=∫abF⋅g′(t)dt=∫ab(F1g1′(t)+…Fngn′(t))dt=F1∫abg′(t)dt+⋯+Fn∫abgn′(t)dt=F1[g1(b)−g1(a)]+⋯+Fn[gn(b)−gn(a)]=F⋅(g(b)−g(a))=F⋅(B−A) O valor do integral só depende dos extremos da curva, pelo que F é conservativo.
Se C for uma curva fechada, escreve-se ∫CFdg como ∮CFdg.
Assim temos que, para qualquer curva fechada, ser um campo conservativo é
equivalente a ∮CFdg=0.
Um campo conservativo é sempre um campo gradiente e vice-versa.
Teorema Fundamental do Cálculo para Integrais de Linha
TEOREMA
Seja ϕ:Rn→R,C1 e uma curva C com extremos A e B, parametrizada
por g:[a,b]→Rn, então
∫C∇ϕdg=ϕ(B)−ϕ(A)
Demonstração
∫C∇ϕdg=∫ab∇ϕ(g(t))⋅g′(t)dt=∫abdtd(ϕ∘g)(t)dt=(ϕ∘g)(b)−(ϕ∘g)(a)=ϕ(g(b))−ϕ(g(a))=ϕ(B)−ϕ(A)
Corolário 1: Se ϕ:Rn→R, C1, então ∇ϕ é conservativo e ∇ϕ:Rn→Rn
Corolário 2: Se ϕ:Rn→R, C1, e C for uma curva fechada (B=A, ou seja, o ponto inicial é o mesmo que o ponto final)
então ∫C∇ϕdγ=0
Campo Gradiente
DEFINIÇÃO
Dado um campo vetorial F:Rn→Rn, se existir ϕ:Rn→R, C1 tal que ∇ϕ=F,
isto é, ϕ é um potencial de F, dizemos que F é um campo gradiente.
Um campo gradiente é sempre um campo conservativo e vice-versa.
Segundo o Teorema Fundamental do Cálculo,
concluímos também que para qualquer campo gradiente,
∫C∇ϕdg=ϕ(B)−ϕ(A)
Campo Fechado
DEFINIÇÃO
F:Rn→Rn é fechado se
∂xi∂Fj=∂xj∂Fi,∀i,j=1,…,n
Exemplo
Seja F(x,y,z)=(y,x,1)
∂y∂F1=1∂x∂F3=0∂x∂F2=1∂z∂F2=0∂z∂F1=0∂y∂F2=0 Logo, F é fechado.
Também se sabe que se F for campo gradiente F=∇ϕ,ϕ∈C2 então F é fechado.
Assim, um campo vetorial gradiente é sempre fechado (e também conservativo, como foi dito acima).
Relações entre tipos de Campos Vetoriais
Sabemos o seguinte:
- Um campo vetorial gradiente é sempre fechado
- Um campo vetorial gradiente é sempre conservativo e vice versa
- Um campo vetorial fechado é gradiente/conservativo se é só se o seu domínio for simplesmente conexo
- O trabalho de um campo conservativo ao longo de uma curva fechada é sempre nulo
Tal pode ser resumido no seguinte esquema:
F gradienteF conservativo∮CF=0← se D simplesmente conexo F fechado
Vórtice
Também conhecido por ralo de banheira, o vórtice é um campo vetorial com o seguinte aspeto:
F(x,y)=(x2+y2y,−x2+y2x)
Visualmente, isto ficaria:
∣∣F(x,y)∣∣=(x2+y2)2y2+(x2+y2)2x2=x2+y21
Podemos reparar que a norma do campo é maior quanto menor for a distância à origem.
- É fechado
- Não é gradiente
Exemplo
Seja o campo vetorial F:
F(x,y)=(x2+y2y,−x2+y2x) Será que F é fechado? E é gradiente?
Vamos então ver se F é fechado:
∂y∂(x2+y2y)=∂x∂(−x2+y2x) ∂y∂(x2+y2y)=(x2+y2)2(x2+y2)−y⋅2y=(x2+y2)2x2−y2 ∂x∂(−x2+y2x)=(x2+y2)2−(x2+y2)+x⋅2x=(x2+y2)2x2−y2 Logo, F é fechado.
Vejamos agora se F é gradiente.
Se pegarmos num círculo, ou seja, numa curva fechada, sabemos que se F é gradiente então o trabalho terá de ser nulo.
C={x2+y2=1}g(t)=(cost,sint)t∈[0,2π] ∫CFdg=∫02πF(g(t))⋅g′(t)dt F(g(t))=(sint,−cost)F(g(t))⋅g′(t)=−1g′(t)=(−sint,cost) ∫CFdg=∫02π−1dt=−2π Logo, como o trabalho é diferente de zero, F não é gradiente.
Exemplos globais
Considera-se F(x,y)=(x2y,3x3).
a) F é gradiente?
-
Começamos por verificar se F é fechado:
∂y∂(x2y)=x2∂x∂(3x3)=x2
Então F é fechado, pelo que ainda pode ser gradiente.
-
De seguida verificamos se F é gradiente, isto é, se existe ϕ tal que F=∇ϕ:
{∂x∂ϕ=x2y∂y∂ϕ=3x3⇔{ϕ(x,y)=3x3y+C(y)ϕ(x,y)=3x3⋅y+D(x) Por exemplo, considerando C,D≡0, ϕ(x,y)=3x3y, pelo que ϕ é um potencial de F.
Então, F é gradiente.
b) Calcule ∫CFdg, tal que g:[0,1]→R2 é uma curva fechada
Como g é uma curva fechada:
∫CFdg=ϕ(B)−ϕ(A)=0
Considerando o campo vetorial F abaixo:
F(x,y,z)=(y+z,x+z,y+x)F:R3→R3
- F é fechado?
∂y∂(y+z)=∂x∂(x+z)⇔1=1∂z∂(y+z)=∂x∂(x+z)⇔1=1∂z∂(x+z)=∂y∂(y+x)⇔1=1 Logo, F é fechado.
- F é gradiente?
Por outras palavras, será que existe algum ϕ tal que F = ∇ϕ?
⎩⎨⎧∂x∂ϕ=F1=y+z∂y∂ϕ=F2=x+z∂z∂ϕ=F3=x+y⇔⎩⎨⎧ϕ(x,y,z)=(y+z)x+C1(y,z)ϕ(x,y,z)=(x+z)y+C2(x,z)ϕ(x,y,z)=(x+y)z+C3(x,y) ϕ(x,y,z)=xy+yz+zx=xy+zx+yzC1=xy+zy+xzC2=xz+yz+xyC3
- Calcule o trabalho, ou seja, ∫CFdg, ao longo da curva C={z=0,x=21+y4,y∈[0,1]}
Como F é conservativo,
podemos usar o Teorema Fundamental do Cálculo
para facilmente calcular o trabalho:
- Ponto inicial (21,0,0)
- Ponto final (1,1,0)
∫CFdg=ϕ(1,1,0)−ϕ(21,0,0)=(1+0+0)−(0+0+0)=1
Considerando o campo F,
F(x,y,z)=(y+x3,y+x,ez)(x,y,z)∈R3 Será que F é gradiente?
Vamos ver se F é fechado:
∂y∂(y+x3)=1∂z∂(y+x3)=0∂z∂(y+x)=0∂x∂(y+x)=1∂x∂(ez)=0∂y∂(ez)=0 O domínio D de F é simplesmente conexo (é R3).
Logo F é fechado e portanto é gradiente.
Calcule ∫CFdg, em que C é a interseção de z=x2+y2 e z=1, considerando uma orientação qualquer.
{z=x2+y2z=1⇔{x2+y2=1z=1 que corresponde a uma circunferência.
Logo, como a curva é fechada e o campo é conservativo, ∫CFdg=0.
Slides: