Uma equação diferencial é linear de coeficientes constantes se poder ser escrita na forma
y(n)+an−1y(n−1)+⋯+a1y′+a0y=h(t)
em que:
a0,a1,…,an−1 são constantes reais;
h:I⊆R→R, uma função contínua em I.
Polinómio Característico (Diferencial)
Podemos reescrever a equação acima de outra forma, utilizando a notação Dy=y′ (e consequentemente D2y=y′′,…,Dny=y(n)):
(Dn+an−1Dn−1+⋯+a1D+a0)y=h(t)
ou ainda, definindo P(D)=Dn+an−1Dn−1+⋯+a1D+a0, como
P(D)y=h(t)
O polinómio característico desta equação é P(D).
É preciso notar que P(D) é um operador, isto é, uma função cujo domínio é um conjunto de
funções de classe Cn, sendo n o grau de P.
O termo P(D) designa um polinómio diferencial que pode ser fatorizado da mesma forma que um polinómio numérico.
Por exemplo, se y é uma função de classe C2:
(D2−4)y=(D−2)(D+2)y=(D+2)(D−2)y
Exemplos
Equação
P(D)
y(5)=0
D5
y′′′+y′′=0
D3+D2
y′′+3y=0
D2+3
y′′′+2y′′+5y=0
D3+2D2+5
Obter a Solução Geral
Por ser uma equação linear, a sua solução geral é dada na forma
y(t)=yG(t)+yP(t)
em que:
yG(t) é a solução geral da equação homogénea associada (ou seja, a solução de P(D)y=0);
yP(t) é uma solução particular de P(D)y=h(t).
Queremos então seguir dois passos para obtermos a solução geral de qualquer equação linear de ordem superior:
Descobrir a solução geral da equação homogénea associada, yG(t).
Se h(t)=0, descobrir a(s) solução(ões) particular(es) da equação.
Em alguns casos, pode ser possível separar h(t) em h(t)=h1(t)+⋯+hk(t) de forma a facilitar os cálculos.
De seguida, usar um dos métodos abaixo. O mais indicado de aplicar vai depender da equação em causa.
Fórmula da Variação das Constantes
Método dos Coeficientes Indeterminados
Solução Geral da Equação Homogénea
O espaço das soluções da equação
P(D)y=0
tem dimensão n, e como tal, a sua solução geral é da forma
y(t)=α1y1+⋯+αnyn
em que:
α1,…,αn são constantes reais;
y1,…,yn são n soluções linearmente independentes da equação.
As soluções y1,…,yn podem ser calculadas da seguinte forma:
Obter o polinómio característico P(D) da equação.
Fatorizar o polinómio obtido, na forma
P(D)=(D−λ1)m1⋯(D−λk)mk
em que λj com j=1,2,…,k são raízes distintas de P(D)
Cada uma das soluções de P(D)y=0 admitirá mj (j=1,…,k) soluções linearmente independentes, obtidas do seguinte modo:
se λj é uma raiz real de multiplicidade mj de P(D), então a equação
(D−λj)mjy=0
admite mj soluções linearmente independentes
eλjt,teλjt,…,tmj−1eλjt
se λj=aj+ibj é uma raiz complexa de multiplicidade mj de P(D), então a equação
Este método é o mais geral, ou seja, é aplicável a todos os problemas em que h(t) é somente uma função contínua.
No entanto, pode não ser fácil de aplicar, e caso seja possível, pode ser benéfico aplicar outro método.
Este método requer a inversão de uma matriz, pelo que se a matriz for de dimensão 3×3 ou superior, pode-se revelar trabalhoso.
De seguida, determinar a inversa da matriz W, isto é, W−1.
Podemos otimizar este processo, reparando que apenas necessitamos da coluna direita, visto a esquerda irá sempre multiplicar por zero.
Este método pode-se revelar mais fácil de aplicar, mas tem a desvantagem de apenas ser aplicável nos casos em que o termo não homogéneo, h(t) é uma função da forma (ou combinação linear, isto é, soma de funções da forma):
tpeλtoutpeatcos(bt)outpeatsin(bt),p≥0
Dada uma função h(t), define-se polinómio aniquilador de h ao polinómio diferencial PA(D) que verifica
PA(D)h=0
Se h(t) satisfaz as condições indicadas acima, então existe um polinómio aniquilador:
se h(t)=tpeλt, então o seu polinómio aniquilador é da forma
PA(D)=(D−λ)p+1
se h(t)=tpeatcos(bt) ou h(t)=tpeatsin(bt), então o seu polinómio aniquilador é da forma
PA(D)=(D−(a+ib))p+1(D−(a−ib))p+1=((D−a)2+b2)p+1
Para resolver uma equação do tipo P(D)y=h(t) pelo método dos coeficientes indeterminados, segue-se os seguintes passos:
Determinar o polinómio aniquilador, PA(D), de h(t). Seja k o seu grau.
Aplicar PA(D) a ambos os membros da equação inicial, donde resulta:
P(D)y=h(t)⟹PA(D)P(D)y=PA(D)h(t)⟹PA(D)P(D)y=0
Note-se que a aplicação de PA(D)não produz uma equação equivalente à inicial.
Embora qualquer solução de P(D)y=h(t) seja solução de PA(D)P(D)y=0, nem todas as equações da segunda
equação resolvem a primeira.
Assim, obtivemos uma equação linear homogénea de coeficientes constantes de ordem n+k.
A solução geral da equação PA(D)P(D)y=0 é dada por
y(t)=α1y1+⋯+αnyn+β1w1+⋯+βpwp
em que y1,…,yn são as soluções linearmente independentes da equação P(D)y=0
determinadas previamente, ou seja:
yG(t)=α1y1+⋯+αnyn
Tem-se então que existem β1,…,βn∈R tais que
yP(t)=β1w1+⋯+βpwp
é uma solução particular de P(D)y=h(t).
Determinam-se os coeficientes β1,…,βp de modo a que w=β1w1+⋯+βpwp verifique P(D)w=h(t).
Exemplo
Determinar a solução do PVI
y′′+3y′+2y=e−xy(0)=0,y′(0)=1
Como já vimos anteriormente, a solução da equação diferencial irá ser da forma
Ambos os termos c1e−x e c3e−2x fazem parte da solução geral da equação homogénea.
Assim, a solução particular é w(x)=αxe−x
Temos então de determinar o valor de α de forma a que w(x) seja uma solução da equação do enunciado.
Para isso, substituímos esta solução na expressão inicial:
Por vezes, a equação que nos é dada não tem todos os coeficientes constantes, como por exemplo:
ty′′+2y′+ty=0.
Quando temos uma equação deste género, não podemos aplicar diretamente nenhum dos métodos referidos acima. Aprendemos, em CDI-III, dois métodos que nos podem ajudar a resolver estes problemas - um deles com ajuda do Wronskiano, outro onde voltamos a ir buscar noções de equações de primeira ordem. Abordaremos primeiro o segundo caso.
Para poder aplicar o segundo caso precisamos, necessariamente, que seja dada uma das soluções da equação. Consideremos essa solução como y1. Esta solução está, atualmente, livre de constante - não continuará assim até ao final. Posto isto, precisaremos de encontrar uma segunda solução, y2. Para a obtermos, assumimos que terá a forma:
y2=v(t)⋅y1,
onde v(t) é uma função de t, atualmente desconhecida. Para determinar y2, teremos de colocar v(t)⋅y1 na equação original, obtendo assim uma nova equação. O objetivo passará, então, por resolver a equação resultante para v(t). Ao descobrir v(t), podemos chegar a y2, e a solução geral será dada por:
yG(t)=c1⋅y1+c2⋅y2,c1,c2∈R
O método (ou uma variação dele) resulta também para casos onde não é dada nenhuma solução e onde não temos termos y - algo do género atαy′′+btβy′=c. Aqui, podemos saltar a parte do v(t) e ir diretamente para a parte, no exemplo, que refere v′(t)=w(t), e resolver a partir daí.
Descobrimos, assim, w. Como w=v′, podemos facilmente chegar a v:
v=∫w(t)dt=∫sint2Kdt=tgt−K.
Agora, tendo v e y1, podemos indicar que y2=tgt−K⋅tsint=t−Kcost. A solução geral da equação é, assim, dada por:
yG=t−Kcost+tBsint
(temos que adicionar a constante a y1, como referido anteriormente).
Encontra-se abaixo uma explicação do método em formato vídeo, com um exemplo:
Existem, contudo, casos onde nenhuma solução é dada, e onde temos um termo do tipo y. Nestes casos, temos de recorrer à matriz Wronskiana.
O primeiro passo será determinar as soluções da equação homogénea do tipo xλ. Cada uma dessas soluções será entrada da matriz Wronskiana, construída a partir destas. Através da formula da variação das constantes vamos chegar à solução particular, sem constantes - a solução geral corresponderá à soma das soluções da equação homogénea com as soluções particulares.
Exemplo - Sem Solução Dada
Tenhamos a equação:
x2y′′+2xy′−6y=x⇔y′′+x2y′−x26y=x1.
Para descobrir a solução geral, devemos começar por descobrir as soluções do tipo xλ da equação homogénea:
Temos, então, que a dimensão do espaço de soluções da equação é 2 e que a solução da equação homogénea será, então, dada por:
yG=c1x2+c2x−3.
Procuraremos, agora, calcular a solução particular, recorrendo ao Wronskiano. Para este passo é importante que o termo de ordem 2 da equação tenha coeficiente 1, caso contrário o resultado será incorreto.
Dadas as duas soluções da equação homogénea, teremos que a matriz Wronskiana é: