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Elementos da Linguagem

Tipos de Dados

Já falámos em secções anteriores sobre os tipos de dados usuais - por esta altura, todos os que estiverem a ler esta página devem estar perfeitamente confortáveis com tipos como char, int, float, double e amigos. É possível, contudo, que ainda não se tenham deparado com situações em que tenham precisado de usar versões diferentes de cada um destes tipos.

Consideremos, por exemplo, uma aplicação que contacta com somas avultadas de dinheiro. Ora, o limite de um inteiro "normal", int, pode ser curto para estas situações: inteiros podem encontrar-se numa range de valores entre [2147483648,2147483647][-2 147 483 648, 2 147 483 647], e há uma quantidade considerável de transações e contas que podem facilmente ultrapassar estes limites. Assim sendo, poderá fazer sentido usar long int, ou até long long int, para os representar. Inteiros tradicionais são armazenados em, no máximo, 4 bytes (32 bits). long int são armazenados em pelo menos 4 bytes, e long long int são armazenados em pelo menos 8 bytes, permitindo uma maior precisão neste tipo de operações. Existe também short int, claro, que podemos utilizar caso saibamos que um dado inteiro nunca ultrapassará valores "pequenos" (não deverão ultrapassar 3276732767). Lógicas análogas (com precisões distintas, claro) podem ser utilizadas para tipos de dados como float e double - float tem precisão de sete dígitos, ocupando 3232 bits, enquanto que double possui precisão de quinze dígitos, ocupando 6464 bits no total.

Podemos ainda usar uma keyword adicional, útil em algumas circunstâncias para aumentar ainda mais a precisão possível de um tipo. Caso saibamos que um dado inteiro nunca será negativo, podemos usar unsigned int para o representar, efetivamente transportando toda a sua capacidade de representar números negativos para representar números positivos adicionais.

Resta realçar, por fim, que podemos obter o tamanho (em bytes) de um tipo de dados na nossa máquina utilizando sizeof(<tipo>). Não devemos decorar o tamanho: em alguns casos específicos, este pode mudar de máquina para máquina, pelo que devemos sempre utilizar sizeof quando nos queremos referir ao tamanho de um tipo.

Conversão de Tipos

É possível converter um tipo de dados para outro: temos o caso clássico de caracteres e inteiros, em que um dado inteiro corresponde a um dado caracter (baseado na Tabela ASCII), podendo realizar operações interessantes com eles. Podemos, ainda, ter dois tipos de dados diferentes (int e float, por exemplo), e executar uma operação sobre eles que retorna um tipo de dados diferente de um deles: a soma de um inteiro com um float não devolve um inteiro, por exemplo.

// Função que recebe uma string de digitos todos juntos
// e devolve o inteiro correspondente
int atoi(char s[]) {
    int i, n;
    n = 0;

    for (i = 0; s[i] >= '0' && s[i] <= '9'; i++) {
        n = 10 * n + (s[i] - '0');
    }

    return n;
}

Existe uma função atoi na standard library que faz o mesmo.

Conversão Forçada de Tipos

Na maioria das linguagens tipificadas, é possível forçar a conversão de um tipo de dados para outro: esta operação chama-se casting. Casts clássicos incluem, por exemplo forçar a truncagem de um float para um int (como por exemplo int n = (int) 2.34).

Ao chamar funções, contudo, o casting é automático: consideremos, por exemplo, a função double sqrt(double n), que calcula a raiz quadrada do respetivo argumento. Passar 2 e 2.0 como argumento surte o mesmo efeito, já que o C trata de fazer por nós o cast de 2 para double.

Constantes - Tipos Enumerados

Enumerados, enum, consistem numa sequência de constantes - por exemplo, enum resposta { NAO, SIM } corresponde a definir que o tipo resposta tem duas constantes associadas: NAO e SIM. Ora, estas constantes têm um valor inteiro associado, intimamente ligado à ordem pela qual são definidas no enum: a primeira constante vale 0, a segunda vale 1, e assim sucessivamente. No exemplo anterior, teríamos NAO e SIM a valer 0 e 1, respetivamente.

Podemos, contudo, especificar valores para as constantes na definição: enum meses { JAN=1, FEV=2, MAR=3, ABR=4, MAI=5, JUN=6, JUL=7, AGO=8, SET=9, OUT=10, NOV=11, DEZ=12 };, por exemplo, pode ser uma abstração útil, já que um mês é vulgarmente conhecido como um inteiro entre 1 e 12.

Abaixo encontra-se um exemplo que poderá, de forma mais direta, mostrar o uso de enumerados:

#include <stdio.h>
enum meses {
    JAN = 1,
    FEV, /* = 2 */
    MAR, /* = 3 */
    ABR, /* ... */
    MAI,
    JUN,
    JUL,
    AGO,
    SET,
    OUT,
    NOV,
    DEZ /* = 12 */
};

int main() {
    enum meses mes;

    mes = FEV;
    mes++;

    if (mes == MAR) {
        /* Escreve a string */
        puts("Estamos em Março");
    }

    return 0;
}

Declarações de Variáveis

A esta altura do campeonato, todos devemos saber os básicos da definição de variáveis: definem-se antes da sua utilização (ou, no limite, assim que se utilizam), especificando o respetivo tipo de dados que representam.

/* Sequência de declarações */
int superior, inferior, passo;
char c, linha[1000];

/* Alternativa */
int superior;
int inferior;
int passo;
char c;
char linha[1000];

A declaração de variáveis, contudo, pode ter mais que um significado inerente, consoante o local no código onde estas são definidas e se se usa uma keyword especial, static, na definição das mesmas.

Variáveis globais são definidas fora da scope de qualquer função, passando a poder ser utilizadas em qualquer ponto do código. Devemos, contudo, ter o cuidado de não nomear variáveis com o mesmo nome noutros pontos do código.

Podemos ainda ter variáveis static: a sua inicialização só ocorre uma vez ao longo do programa - se o fluxo do programa voltar à declaração da mesma, esta pegará no valor com que acabou o último fluxo de execução onde se encontrava. O exemplo abaixo (do contador) poderá ilustrar com mais clareza o propósito destas variáveis:

int global; /* global = 0 */

int contador() {
    static int i = 1; /* Só inicializa i a 1 */
                      /* Depois de inicializada esta instrução é ignorada */
    return i++;
}

int main() {
    int a = global + contador();
    int b = contador();
    int c = contador();

    printf("a = %d, b = %d, c = %d\n", a, b, c);
    /* a = 1, b = 2, c = 3 */
    return 0;
}

Omissão de Inicialização

Em C, só as variáveis globais e estáticas são inicializadas automaticamente a 0 (caso o utilizador não fornecer nenhuma inicialização explícita).

No caso de variáveis locais, na ausência de inicialização estas ficarão com valor dito indefinido até uma posterior atribuição.

Podemos ainda definir variáveis constantes, através da keyword const: pode anteceder qualquer declaração, e significa que o valor associado àquele nome nunca vai mudar (nem pode). Sempre que tentarmos modificar o valor de uma constante, o compilador vai gritar connosco - não queremos que o compilador grite connosco.

const double e = 2.71828182845905;
const char msg[] = "bem vindo ao C";
int strlen(const char[]);

Inicialização de Vectores

Podemos inicializar vectores de várias maneiras diferentes:

  • int numbers[] = {1, 44, 12, 567}, que inicializa um vector de 4 inteiros com os valores 1, 44, 12 e 567;
  • char codes[][3] ={"AA", "AB", "BA","BB"}, que inicializa um vector de vectores de três caracteres (note-se que o \0 está aqui contado);
  • int numbers[10] = {1, 44, 12, 567}, que inicializa um vector de 10 inteiros, onde os 4 primeiros valores são 1, 44, 12 e 567, e o resto fica inicializado a zero. Note-se, aqui, que a diferença é termos especificado o tamanho do vector;
  • Entre outras, claro: há toda uma panóplia de maneiras de inicializar vectores!

Operações

Bem, por esta altura já devemos conhecer a grande maioria dos operadores em C:

  • Operadores Aritméticos: + - * / %
  • Operadores Relacionais: > >= < <= == !=
  • Operadores Lógicos: ! && ||

As suas precedências, contudo, podem não ser triviais. Em C, temos que a precedência de operadores é tal que:

!>>>Aritmeˊticos>>>Relacionais>>>Loˊgicos\text{!} >>> \text{Aritméticos} >>> \text{Relacionais} >>> \text{Lógicos}

Em relação aos valores de verdade em C, temos que true corresponde ao inteiro 11, e que false corresponde ao inteiro 00. Utilizar a negação funciona como esperado: !0 = 1, e vice-versa.

Operadores Bit a Bit

Em C, é possível efetuar operações sobre a representação binária de um número, manipulando-os bit a bit:

  • & AND bit a bit
  • | OR bit a bit
  • ˆ XOR (OR exclusivo) bit a bit
  • << shift left
  • >> shift right

Com o MEPP, IAC passou para depois de IAED, pelo que é possível que ainda não tenham contactado a fundo com notação binária. Podem, contudo, encontrar um apanhado geral do funcionamento destes operadores noutros sites.

int x = 1, y = 2;
int z = x & y;
int w = x && y;

printf("z = %d w = %d \n", z, w);

/* z = 0 , w = 1 */

Expressões Condicionais

Expressões condicionais são expressões que recorrem a um operador ternário, e que dependem do valor de verdade de uma outra expressão. A sintaxe deste tipo de expressões segue o padrão <expr1> ? <expr2> : <expr3>, onde:

  • Se <expr1> for verdadeiro, o valor da expressão é <expr2>;
  • Se <expr1> for falso, ovalor da expressão é <expr3>.

O operador ternário permite one-liners interessantes, mas pode tornar o código menos legível: façam escolhas pensadas, pensando sempre primeiro na ótica de quem vai ler o vosso código (tornem a vida dessa pessoa mais fácil).

int maior(int a, int b) {
    if (a > b) {
        return a;
    } else {
        return b;
    }
}

int maior(int a, int b) {
    return (a > b ? a : b);
}