Continuidade
- Continuidade Pontual
- Continuidade segundo Heine
- Continuidade com operações algébricas
- Continuidade da composta
- Prolongamento contínuo de uma função
- Limite num ponto
- Consequências da definição de limite
- Teorema das funções enquadradas
- Limites laterais
- Limites em
- Levantamento de indeterminações
- Continuidade em conjuntos (continuidade global)
Definição
Função contínua num ponto: Sejam um conjunto não vazio, uma função real de variável real e . Diz-se que é contínua em se para qualquer distância existe uma outra distância tal que
A mesma definição pode ser escrita .
Também pode ser escrita na forma .
Uma função é contínua num ponto do seu domínio se e só se é contínua em , para algum .
No PDF da aula 9 em anexo, páginas 12 e 13, encontram-se alguns exemplos de continuidade.
Continuidade Pontual
Função Heaviside
Esta função modela o comportamento de um interruptor, definida por:
Começa-se por estudar a continuidade em . Como a função é constante em e , podemos assumir uma vizinhança de raio menor que o valor absoluto de (isto é, ). Desta forma, todos os valores na vizinhança vão ser iguais a (isto é, de valor 1 para e valor 0 para ). Logo, a função é contínua em .
Estudando agora a continuidade em , podemos concluir que, considerando , não existe nenhum ponto de tal que , e portanto, não pode existir nenhum tal que . Concluímos assim que não é contínua em 0.
Função de Dirichlet
A função de Dirichlet é definida por:
Não é possível desenhar o gráfico desta função, visto que o seu aspeto seria o de duas retas paralelas devido à densidade dos racionais e irracionais em , mas este é definido por:
Para estudar a continuidade, considera-se um qualquer e . Para qualquer ,
e então a função não é contínua em .
Conclui-se assim que a função de Dirichlet é descontínua em todos os pontos de .
Função Seno
Para estudar a continuidade da função seno, definida por:
podemos considerar um .
A função é contínua em se for possível, para cada , determinar um tal que .
Esta implicação é equivalente a:
Como sabemos que , podemos escrever que:
E como :
Então, se assumirmos que :
podemos concluir que é contínua em e, consequentemente, a função seno é contínua em .
Continuidade segundo Heine
Seja uma função real de variável real e , é contínua em se e só se para qualquer sucessão de termos em e convergente para se tem
Pode-se concluir através desta definição que uma sucessão é sempre contínua, assim como qualquer função definida num ponto isolado do seu domínio é contínua nesse ponto.
Continuidade com operações algébricas
Sejam e duas funções reais de variável real, e . Então, se e são contínuas em :
- , , , são contínuas em
- Se ímpar, é contínua em
- Se , é contínua em
- Se , é contínua em
- Se (e par), é contínua em
Continuidade da composta
Sejam e duas funções reais de variável real e tal que . Então, se é contínua em e é contínua em , a função composta é contínua em .
A partir desta definição, pode-se concluir que as funções trigonométricas e hiperbólicas são contínuas no seu domínio, basta recorrer à aplicação do teorema anterior às funções necessárias.
Exemplos da aplicação deste teorema encontram-se no PDF da aula 10 em anexo, página 6.
Prolongamento contínuo de uma função
Prolongamento contínuo () de uma função: Seja uma função real de variável real e , diz-se que é prolongável por continuidade em se existe uma função definida em que coincide com em todos os pontos de e é contínua em . Chama-se a uma função nessas condições, prolongamento contínuo de em .
Daqui podem-se extrair algumas propriedades:
- O prolongamento contínuo de uma função num ponto, se existir, é único.
- Qualquer função continua num ponto tem prolongamento contínuo nesse ponto, sendo este a própria função.
- Considerando , podem-se definir extensões da função a que são funções contínuas. Esta extensão, no entanto, não é única e não se trata de um prolongamento contínuo em .
Definição
Definição de limite de uma função num ponto: Seja uma função real de variável real e , diz-se que existe limite de no ponto se existe o prolongamento contínuo de em , isto é, , dizendo-se, nesse caso, que o limite de em é . Ou seja,
Limite num ponto
Limite num ponto segundo Cauchy
Seja uma função real de variável real e . O limite de no ponto é se e só se, para qualquer , existe um tal que, para qualquer
Limite num ponto segundo Heine
Seja uma função real de variável real e . O limite de no ponto é se e só se, para qualquer sucessão () de termos em e convergente para se tem .
Unicidade do limite
Seja uma função real de variável real e . Se, para alguns, ,
então, .
Um limite, caso exista, é único.
Calcular limite numa função contínua
Numa função contínua, o limite num ponto pode-se obter determinando o valor da função nesse ponto: .
Propriedades de limites num ponto
- Se e são contínuas em e então para qualquer para algum .
- Se existem e tais que e e , então para qualquer , para algum .
- Se , para todo o para algum , então, se existirem tais que e , tem-se que .
- A propriedade anterior também se verifica para .
Consequências da definição de limite
Relação função contínua e limitada
Seja uma função de domínio com limite num ponto . Então, é limitada numa vizinhança de , ou seja, existe um tal que é uma função limitada.
Seja uma função de domínio contínua em . Então, é limitada numa vizinhança de .
Unicidade do limite
Tal como já vimos, um limite, se existir, é único. Podemos aplicar esta propriedade ao estudo do limite de uma função num ponto:
Considerando a seguinte função
Para provar que esta função não tem limite para , podemos recorrer também à definição de Heine.
Seja a sucessão de termo geral . Como , o limite de na origem, se existir, terá de ser igual a
No entanto, se considerarmos a sucessão de termo geral , em que , o limite de na origem teria de ser também igual a
Como o limite, se existir, é único, e , podemos concluir que não existe limite de para .
Limite da composta
O limite da composta é a composição dos limites, desde que o ponto em questão esteja no fecho do domínio da composta.
Podemos verificar esta afirmação através do seguinte exemplo, considerando a composta :
Facilmente se verifica de que e que . Do mesmo modo, e (atenção que o aqui referido é o resultado do limite em , e não do inicial).
No entanto, ao calcular o domínio da composta, chegamos a
e claramente que não é aderente a esse domínio.
Logo, o limite de em não faz sentido.
Teorema das funções enquadradas
Sejam , , , e tal que, para algum , .
Se, para qualquer, ,
e
então
Resumidamente, se num certo ponto, a função estiver enquadrada entre duas outras funções e tal que os limites destas últimas são iguais, também vai ter esse valor para o limite nesse certo ponto.
Limite de uma função num ponto relativo a um conjunto
Seja , uma função real de variável real e . Se , chama-se limite de em relativo ao conjunto ao limite em da restrição de a , caso este exista.
O limite de uma função num ponto existe se e só se ele existe e tem o mesmo valor segundo qualquer conjunto contido no domínio de ao qual seja aderente.
Um exemplo da aplicação desta propriedade encontra-se no PDF da aula 11 em anexo, página 6.
Limites laterais
Podem-se definir os limites laterais de uma função à direita e à esquerda de um ponto , como sendo os limites, caso estejam bem definidos,
Um exemplo da aplicação de limites laterais numa função com ramos está disponível no PDF da aula 11 em anexo, página 7.
Definição
Existência de limites laterais para as monótonas
Sejam , , e uma função monótona e limitada. Então, tem limites laterais em todos os pontos de .
Continuidade lateral
Diz-se que uma função é contínua à direita de um ponto se, sendo , para algum , e tem prolongamento contínuo em , ou seja, existe e .
Diz-se que uma função é contínua à esquerda de um ponto se, sendo , para algum , e tem prolongamento contínuo em , ou seja, existe e .
Resumidamente, uma função é contínua à direita se e é contínua à esquerda se .
Limites em
Há duas situações em que podem surgir limites em no estudo das funções:
- O "ponto" em que se está a calcular o limite é .
- O valor do limite é .
no fecho de um conjunto em :
- Diz-se que está no fecho de um conjunto se não é majorado.
- Diz-se que está no fecho de um conjunto se não é minorado.
Limite em de uma função segundo Heine
Seja uma função real de variável real. Se está no fecho de , diz-se que o limite de em é se, para qualquer sucessão com limite e termos em , se tem .
Exemplo
Pretende-se descobrir se a função é limitada:
Pode-se concluir que a função é contínua em por ser a soma e composta de funções contínuas. Assim, tem limite finito em qualquer ponto de . Isto diz-nos que a função é limitada em qualquer conjunto limitado.
Falta-nos assim verificar se a função é limitada em vizinhanças de .
Podemos verificá-lo através do limite da função segundo Heine. Escolhe-se assim uma qualquer sucessão tal que :
Podemos fazer o mesmo para , escolhendo uma qualquer sucessão tal que :
Podemos concluir assim que a função é limitada em .
Vizinhança de infinito
Define-se a vizinhança de raio de como sendo o conjunto
Define-se a vizinhança de raio de como sendo o conjunto
Limite num ponto segundo Cauchy, em
Semelhantemente ao que já foi definido anteriormente, define-se agora o limite num ponto segundo Cauchy para . Assim:
Sejam , uma função real de variável real e no fecho de . O limite de no ponto é se e só se para qualquer existe um tal que, para qualquer ,
Propriedades de limites num ponto, em
Algumas das propriedades anteriormente vistas para limites num ponto também se estendem para limites em :
- Se , para todo o para algum , então, se existirem tais que e , tem-se que .
- A propriedade anterior também se verifica para .
Limite da composta, em
Sejam , e tais que . Seja, ainda, no fecho de tal que o limite de em existe, tem valor e está no fecho de . Suponha-se, ainda, que o limite de em existe e tem o valor e que está no fecho do domínio de . Então, existe o limite de em e tem o valor .
Por outras palavras, assumindo que os valores em causa pertencem devidamente aos respetivos domínios:
Operações algébricas, em
Tal como aconteceu nas sucessões, as operações algébricas entre funções são facilmente estendidas a . Apenas é preciso ter atenção à existência de limite para todas as funções intervenientes e de (não haver) indeterminações.
Limite em de uma função num ponto relativo a um conjunto
Este teorema anteriormente definido, também se estende para .
Através desta extensão do teorema, verifica-se imediatamente que os limites em são, por definição, limites laterais.
Existência de limites laterais para as monótonas, em
Existência de limites laterais para as monótonas: Qualquer função monótona num intervalo, tem limites laterais em todos pontos que estejam no fecho desse intervalo.
É de salientar que é possível que os limites laterais sejam infinitos nos extremos desse intervalo.
Levantamento de indeterminações
Em geral, as técnicas utilizadas para levantar indeterminações nas sucessões podem ser utilizadas no cálculo de limites de funções.
Apresentam-se algumas exceções:
- Todas as técnicas que utilizam, nas sucessões, o cálculo de limites que incluem e não têm equivalente direto para as funções.
- Surgem as técnicas de fatorização para levantar indeterminações do tipo quando o ponto onde se calcula o limite é finito.
No documento da aula 12 em anexo, páginas 5 e 6, encontram-se dois exemplos da aplicação das técnicas de fatorização no cálculo de limites em funções.
Escala de funções
Pode-se também "importar" a escala de sucessões para funções, com atenção de que o fatorial não pode ser utilizado com funções reais de variável real:
Limites notáveis
Podem também ser importados das sucessões alguns limites notáveis, tais como:
Exemplo disponível no PDF da aula 12, página 7.
Outro limite notável que também é valido é:
Continuidade em conjuntos (continuidade global)
Teorema do valor intermédio (TVI)
Definição
Teorema do valor intermédio
Se é uma função contínua num intervalo de números reais, e assume dois valores distintos nesse intervalo, então assume todos os valores intermédios.
Outra propriedade derivada deste teorema é a seguinte:
- Uma função contínua transforma intervalos em intervalos.
Este teorema tem também uma "espécie" de recíproco:
Recíproco
Sejam um intervalo e uma função monótona tal que é um intervalo. Então é contínua.
Teorema de Bolzano
Este teorema, já conhecido do Ensino Secundário, é bastante parecido ao Teorema do Valor Intermédio.
Definição
Teorema de Bolzano
Sejam , , e uma função contínua num conjunto que contém o intervalo
então para qualquer entre os valores de e , existe um tal que .
A maior diferença entre o Teorema de Bolzano e o Teorema do Valor Intermédio é que o de Bolzano não pode ser aplicado diretamente a uma função contínua num intervalo e o TVI pode.
Continuidade da inversa
Teorema
Sejam um intervalo e uma função estritamente monótona e contínua. Então é invertível e é contínua em .
Através deste teorema, podemos concluir que o logaritmo, o arco seno, o arco cosseno, o arco tangente, o arco cotangente, o argumento do seno hiperbólico, o argumento do cosseno hiperbólico e o argumento da tangente hiperbólica são todas funções contínuas.
Teorema de Weierstrass
Definição
Teorema de Weierstrass
Sejam um intervalo fechado e limitado e uma função contínua. Então, tem máximo e mínimo.
Outra forma de escrever este teorema é:
- Uma função contínua transforma conjuntos compactos em conjuntos compactos.
PDFs: