Política Económica
Ao falar de Política Económica, referimo-nos à influência do Governo sobre a Economia.
Propensão Marginal a Consumir
A propensão marginal a consumir (PMC) é a variação no consumo devido a uma unidade extra de rendimento.
Este valor depende da situação da pessoa/família. Usualmente, uma família com rendimentos mais baixos vai ter uma PMC maior, isto é, quando ganha mais rendimento vai consumir mais (pois passa a ter essa possibilidade), enquanto que uma família com rendimentos elevados vai ter uma PMC menor, dado que o dinheiro já não era um fator limitante para o seu consumo.
Efeito Multiplicador
Devido a fluxos circulares, a mudança num certo setor pode propagar-se, causando mudanças noutros setores relacionados.
Por exemplo, se houver uma redução generalizada do consumo, haverá uma consequente redução da produção, o que, por sua vez, provoca um aumento do desemprego. Com uma maior percentagem de consumidores desempregados, diminui o poder de compra, o que acentua a redução do consumo.
O investimento é especialmente sujeito ao efeito multiplicador, sendo fortemente afetado por fatores como a confiança empresarial. Pode também aumentar com:
- taxas de juro mais baixas;
- taxas de lucro esperado mais altas;
- melhorias no ambiente de negócios.
Alguns fatores que influenciam o efeito multiplicador são:
- a propensão marginal a consumir (PMC);
- a propensão marginal a importar (PMI);
- a taxa de imposto;
- as expectativas do setor privado: o multiplicador pode ser negativo se o aumento do défice orçamental corroer a confiança dos consumidores (ou seja, reduzir a PMC);
- a taxa de utilização da capacidade produtiva: com pleno emprego dos recursos, o aumento nos gastos do governo reduz os gastos privados.
Influência Governamental
O Governo tem alguma influência sobre as componentes do PIB:
- Despesas do Governo (G): exógenas;
- Consumo (C): a PMC das famílias é calculada a partir do rendimento disponível, ou seja, depois de somar transferências e subtrair impostos;
- Investimento (I): são influenciados por taxas de juro e taxas de lucro depois de impostos;
- Exportações (X): exógenas (depende do rendimento do importador);
- Importações (M): depende do rendimento doméstico;
Propensão Marginal a Importar
De forma semelhante ao PMC, a propensão marginal a importar (PMI) é a fração de cada unidade adicional de rendimento que é gasta em importações.
As importações reduzem o tamanho do multiplicador, dado que o dinheiro é usado para comprar bens ao exterior. A poupança e a tributação também reduzem o multiplicador.
Papel dos Mercados Internacionais
Os mercados internacionais têm os seguintes efeitos sobre as exportações e as importações:
- Flutuações na taxa de crescimento de mercados externos (influenciam as exportações);
- A PMI amortece as flutuações domésticas;
- Limitação do uso de estímulos fiscais se a PMI for elevada (menor efeito multiplicador).
Estabilização da Economia
O Governo pode estabilizar flutuações económicas de diversas formas, mais nomeadamente através de políticas orçamentais:
- Gastos do Governo altos e exógenos;
- Taxas de imposto elevadas (reduz o multiplicador);
- Subsídios de desemprego (suavizam o consumo das famílias).
Estabilizador Automático: atribuição automática do Estado que compensa automaticamente uma expansão ou contração na Economia. Corresponde a uma intervenção não deliberada, dado que o principal objetivo dessa atribuição não é estabilizar a economia.
- Os subsídios de desemprego e a taxa de imposto progressiva são exemplos de estabilizadores automáticos.
Paradoxo da Parcimónia
O Paradoxo da Parcimónia (paradox of thrift) dá-se quando ocorre uma tentativa agregada de aumentar a poupança que leva a uma queda no rendimento agregado.
O governo pode contrariar esta tendência, que provoca a queda do consumo e/ou do investimento do setor privado, através de estímulos orçamentais:
- reduzir impostos, o que incentiva o setor privado a gastar mais
- aumentar a despesa (), o que aumenta diretamente a procura agregada
Finanças do Governo
Alguns conceitos importantes a reter:
- Dívida: aquilo que se deve em stock;
- Défice Primário: é uma variável de fluxo, são os gastos do governo subtraindo os impostos ();
- Saldo Orçamental: ;
- Equação Orçamental: ;
Variáveis pró-cíclicas e contra-cíclicas
Uma variável pro-cíclica tem uma correlação positiva com o PIB. Um exemplo é o Saldo Orçamental.
Uma variável contra-cíclica tem uma correlação negativa com o PIB. Um exemplo é o Défice Primário.
Se durante uma recessão, um Governo optar por uma Política de Austeridade (contenção dos Gastos do Governo e retirada do Estado da Economia), pode levar a reforçar uma recessão ao reduzir ainda mais a procura agregada. Um estímulo orçamental resultará num saldo orçamental negativo (défice) e, se não for revertido após a recessão, a dívida do Estado aumentará.
Dívida Pública
A Dívida Pública consiste na soma de todos os títulos emitidos ao longo do tempo para financiar o défice orçamental menos os títulos vencidos (dívida reembolsada).
Crise da Dívida Soberana: situação em que os títulos do Governo passam a ser considerados de risco (risco de default).
Um grande stock de dívida em relação ao PIB pode ser um problema devido aos juros que o Governo tem de pagar. No entanto, o Governo nunca tem de pagar completamente o seu stock em dívida, pode em vez disso emitir novos títulos.
Um rácio de dívida cada vez maior também acaba por se tornar insustentável.
O endividamento pode diminuir se:
- o saldo primário (receita menos juros pagos) é positivo;
- o PIB crescer mais rapidamente do que a dívida.
Política Monetária
A taxa de política monetária afeta todas as taxas de juro numa Economia.
Para definir a taxa de política monetária (taxa de referência), o banco central raciocina para trás:
- Escolher nível desejado de procura agregada, usando o equilíbrio do mercado de trabalho e a curva de Phillips;
- Estimar a taxa de juro real (convencional) ou a massa monetária (não convencional) que produzirá esse nível de procura agregada;
- Calcular a taxa de juro nominal que produzirá a taxa de juro de mercado associada.
O Banco Central, através da redução da taxa de juro real e/ou através de injeções de liquidez, estimula uma economia, favorecendo o investimento e o consumo.
Limitações
- A taxa de juro nominal a curto prazo não pode assumir valores negativos.
- uma taxa de juro nominal a zero pode não ser suficientemente baixa para estabilizar a economia.
- Quantitative Easing: o Banco Central compra ativos financeiros com o objetivo de injetar liquidez.
- Um país sem moeda própria não tem política monetária própria (os países da Zona Euro são um bom exemplo).
Inflation Targeting
O estabelecimento de metas de inflação é um regime de política monetária em que o Banco Central recorre a instrumentos políticos para manter a economia perto da meta estabelecida de inflação (que ronda os 2%).
A existência de um Banco Central independente do Governo dá credibilidade às metas de inflação e evita espirais inflacionistas. A formulação consistente de políticas e uma boa comunicação com o público também aumenta a confiança no Banco Central.
Sacrifice Racio: percentagem anual do PIB perdida ao reduzir a inflação em um ponto percentual.
- Uma estimativa comum é 5 (ou seja, por cada ponto percentual de redução na inflação, 5% do output anual é sacrificado).
Forward Guidance: o Banco Central anunciar o que pretende atingir e o que vai fazer para isso. Ao fazer isso, pode levar a maior procura e maior investimento.
Taxa de Câmbio
Taxa de Câmbio (Exchange Rate): número de unidades de moeda nacional que equivalem a uma unidade de moeda estrangeira (ou seja, quanto custa uma moeda face a outra).
- Afeta a procura relativa por bens produzidos domesticamente, logo afeta as Exportações Líquidas (Exportações - Importações).
As taxas de juro domésticas afetam a procura de moeda doméstica nos mercados de câmbio, o que por sua vez afeta a taxa de câmbio do país, provocando apreciação ou depreciação da sua moeda.
Choques na Procura
Um choque na procura corresponde a uma variação inesperada da procura agregada (pandemias ou guerras são alguns exemplos).
O Governo pode recorrer às seguintes políticas para estabilizar a economia::
- Política Orçamental: cortes de impostos e aumento dos Gastos Governamentais;
- Política Monetária: diminuição das taxas de juro nominais e injeção de liquidez na economia.
O Governo Enquanto Problema/Solução
O Governo tem poder suficiente para implementar soluções que atenuam certos problemas económicos:
- Incentivos: alterar custos e benefícios através de impostos, subsídios, ...;
- Regulação: normalização dos mercados (através de políticas de concorrência, por exemplo);
- Persuasão/Informação: alterar as expectativas ou a informação disponível;
- Provisão pública: manutenção da economia através de bens e transferências.
No entanto, qualquer organização com poder suficiente pode também causar danos:
- Silenciamento: uso da força para reduzir o poder e a influência de opositores;
- Corrupção: obtenção de rendimentos elevados para funcionários e líderes.
Para minimizar esses danos, sociedades democráticas impõem limites ao poder do Governo:
- Eleições: a renovação do Governo permite a demissão de maus governos;
- Restrições Constitucionais: limitação através da Lei;
- Concorrência Política: a probabilidade de ganhar uma eleição torna-se mais dependente do desempenho do Governo.